“Não se pode pensar o Brasil sem entender a questão agrária” – é com essa frase que Alceu Castilho encerra a entrevista dada a um canal on line, a respeito de seu livro “Partido da Terra”. O jornalista fez um levantamento de dados que mostra a concentração fundiária nas mãos de prefeitos, senadores e deputados – mais de 2 milhões de hectares pertencem a pessoas que ocupam estes cargos públicos – área equivalente ao estado de Sergipe.

Uma família no Assentamento Rural de Sumaré I vive em 8 hectares – banana, goiaba, mandioca, arroz, milho e feijão; trabalho familiar, produção de alimentos, agrobiodiversidade, cultura local, emprego.

As grandes extensões privadas de terra servem à outra lógica: especulação imobiliária, investimento financeiro, produção de mercadoria (commodities), exportações, monocultivos, mecanização, padronização produtiva, erosão genética, desemprego, esvaziamento de comunidades rurais, inchaço dos centros urbanos, violência…
O uso empresarial, corporativo, explora a terra como instrumento de poder e investimento de capital, muitas vezes de curto prazo; a agricultura familiar busca estabelecer-se, compreendendo as dinâmicas locais como espaço contíguos de sua casa, afinal a terra é onde assenta-se seu lar.
São pensamentos distintos como esses, entre agricultura empresarial e familiar, que determinam não só a geografia do rural, mas toda nossa organização territorial, nossos modos de vida, nossa concepção de cidade, nossa mazela civilizatória. Os discursos e as ações políticas por detrás destes distintos pensamentos moldam nossas vidas; compreender como se organiza a força produtiva no campo implica tomar consciência de estruturas que nos impulsionam ao câncer social, ao esvaziamento de sentidos humanos, à industrialização da vida, ou à segurança e soberania alimentar, à solidariedade campo-cidade, à inexistência das fomes de estômago e de coração.

Temos fome de que?


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