Por Maíra Ribeiro

Sempre ouvi histórias de vaqueiros
nas músicas, novelas, cordéis
vaqueiro
o homem só
homem sujo
solto no mundo
A virilidade concentrada
nas gotas de suor que lhe caem
baixo o sol do meio dia
logo viram lama de poeira

Sempre ouvi histórias de vaqueiros
e – apesar dos charcos enlameados que
o gado tem traçado nestes confins
Transforma cerrado em pastagem
mata em capim
roça em braquiária
Faz posseiro comprar feijão no mercado
(pra não diminuir o pasto)
traz o caminhão de verduras de Goiás pros mercados
soluça a tosse das crianças nas queimadas da seca

Apesar disso tudo,
é bonito ver uma boiada passando
Volta e meia, cruzo uma na estrada
De longe vemos a poeira subindo
a massa branca se movimentando
lenta
Gosto de reduzir a marcha
e tocar também o gado cá de dentro
o gado branco
marrom de caminhada
magro de cansado
abatido
antes mesmo de sofrer o golpe mortal

De baixo dos seus chifres pontudos
por cima de suas toneladas de músculo e couro
Cabeças baixas, seguem cegos de sol
caminhando na estrada
feito procissão
sem fé
manobra em massa sem vontade

Junto ao gado alheio
cruzo cinco, seis homens à cavalo
são os vaqueiros
Tem criança e velho na mesma tropa,
a imponência e a impotência na mesma lida
Tem dureza e serenidade no mesmo rosto
coberto por chapéu e óculos
Aceno em reverência a quem detém
a ciência de viajante,
de toque de boi e de berrante

Mais adiante,
vai a charrete com mantimentos
À tardinha
vai arranjar um bom canto
pra armar acampamento
pra seguir andando

É a comissão de frente do sertão
levando bois que nem sequer lhes pertence
que não pertencem às terras de onde os tiraram
nem às terras para onde vão
São bois do mundo
em aluguel por estas paragens
pertencerão aos donos dos bois?
Ou aos donos dos donos dos bois?
Quem sabe um dia,
pertencerão à mesa de uma família europeia
ou ainda a um restaurante sudestino,
de onde eu venho.


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