passa

(Reynaldo Jardim, Brasil, 1926-2011) (viaEupassarin)

Um fruto (ou mesmo o pão)

é útil à proporção que alimenta.

A couve-flor (ou mesmo o ar)

é bela porque germina.

Assim o trigo e o canavial,

o café e o porto,

a mulher e o tempo.

Sementes de gordos horizontes.

Comei deste poema

um gomo ou a laranja integral.

O pó não alimenta,

mas na terra o pasto viceja.

No pensamento vazio nada vive,

mas onde houver substância,

ali o alimento existe.

Mastigai o poema,

com casca, polpa, germens, ácidos.

Os resíduos seguirão o doloroso fim.

A seiva enriquecerá teu plasma sanguíneo:

em ferro e iodo,

em sol e tempo

e horizontes palpáveis.

Uma fruta (ou mesmo a harmonia),

o agrião, as greves e as alfaces,

– palavras indigestas à poesia…

No entanto, o nutritivo poema se fermenta

e sobre cidades, soldado, fábrica, menino,

explica a anemia,

nutre a revolução.


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